Viver as festividades com consciência
“Não me digas que já entraste no espírito natalício…” – diz alguém com dois dedos de testa que ainda está longe de sequer pensar em Natal.
Ora, já. Já a fiz e já vou atrasada.
Faço parte do grupo de pessoas que decora a casa no 1º de Novembro com uma lenta contagem decrescente pela frente. No entanto, nunca (mas nunca!) o faço a 1 de novembro porque ainda estou a ressacar o espírito Halloween. As teias de aranha e chapéus de bruxa espalhados pela casa ainda vão permanecer durante uns 7 dias. No mínimo!
“E porque é que és assim?”
Assim como? – “Porque é que montas a árvore logo no inicio de novembro?”
É um complexo de experiências:
-
Primeiro porque arrastei o meu companheiro nesta viagem de memórias quando a minha família se juntava para montar a árvore no 1º de novembro.
-
De seguida, a árvore decorada e iluminada traz um conforto indescritível à sala.
-
Numa época do ano tão sombria como o outono de novembro, as luzes e os brilhos enganam o cérebro quando a luz é escassa e o bom humor também.
-
Fundamentalmente, adoro o Natal.
As festividades natalícias, tendo ou não, motivações religiosas por trás, acabam por ser um antídoto no que pode ser uma altura que nos convida a recolher mais cedo e a aproveitar menos o exterior. E, se eu tivesse certificação académica na área, diria com confiança que os celtas habitantes da península ibérica já tentavam alegrar as suas cabanas uns pares de anos antes de Cristo, por esta altura do ano.
Ainda não conhecia Slow Living e já desacelerava por estes meses
A panca não é de agora, podes ter a certeza.
Tenho em banco, horas infinitas contadas de desfrutar das luzes da árvore de natal, contemplação dos adornos e sorrisos perdidos a imaginar a ceia das noite de 24.
Desde que me dou por gente que toda a construção e projeção até ao natal é um hábito meu e que era oficializado com desencaixotar da árvore com agulhas de tecido plástico guardada nos arrumos da garagem.
E esse espírito acompanhou-me até à presente idade adulta.
Atualmente trago comigo memórias de desacelerar e estar em casa encostada no sofá sentir que o meu lar me aconchega. Estamos em uníssono em celebração quieta, silenciosa e tranquila.
Uma casa festiva, uma casa iluminada, uma casa slow
E assim preparo a minha casa para o que não considero ser 2/3 dias de festa. A véspera e o dia de natal, assim como a passagem de ano, são como o encerramento dos jogos olímpicos. Até lá torcemos por campeões de modalidades festivas como cânticos de natal, mantas, velas, aquecedores, pantufas, bolas douradas, luzes que piscam, listas de prendas e comidas “pesadas” que nos aquecem até as células.
É uma altura de ouro. Já muitos enfeitam as suas casas por este mês mas com dezembro chegam as iluminações de rua e de casas que para mim são de nobres. Pessoas abastadas em finanças e tempo que se dão ao luxo de enfeitar o exterior das suas habitações para puro deleite do outro.
E andamos pelas rua assim, já escuras mas iluminadas por milímetros de pequenas lâmpadas, e chegamos ao nosso lar que culmina esse espetáculo.
Dicas para uma casa natalícia slow
Ah!, é clickbait. Ahahahaha!
Não vou por esses caminhos, já sabes.
Mas deixo-te algumas reflexões que (assim espero) poderão inspirar a tua sensibilidade festiva.
Tópicos que poderão trazer ao de cima a celebração que há em ti:
-
Uma casa festiva não é uma casa só com 3 árvores de natal na sala, 1 em cada quarto e 2 no hall de entrada, 5km de luzes, 20 grinaldas e um armazém de pirâmides de pau, pais natal e soldadinhos de chumbo.
-
O espírito festivo vive-se, não se compra
-
Talvez seja este o momento para criares os teus próprios ornamentos com 4€ de massa que seca ao ar e 5€ em tintas acrílicas
-
450 velas de especiarias a arderem nas prateleiras não ganham ao cheiro de assados e bolos
-
Para quem tem filhos, os 500 cartões e bonecos de neve feitos com guache, algodão de farmácia e 4kg de cola, podem ser os melhores ornamentos para preencher a árvore de natal
-
Há noites, após o jantar, em que tudo o que nós precisamos está numa playlist de musicas de natal
-
O mesmo vale para filmes
-
Não há nada como uma manta, um pijama fofo e um caderno de anotações para refletirmos com consciência sobre os presentes e cada pessoa que está na nossa lista
-
Podes achar que a natureza nos castiga com tantas horas de escuridão, chuva, humidade e algum frio, mas também podes pensar em como estas condições naturais também te convidam a recolher mais e mais cedo e a descansar mais, assim como te fazem apreciar mais a luz do dia e as cores que o outono nos traz
-
Esta é a altura de presentear o nosso corpo com flavonoides maravilhosos após um ano de estragos: chá, cacau, frutos vermelhos, vinho…
Para quem o Natal passa despercebido
Não é uma época festiva que momentaneamente cura as nossas dores, restitui relações e repõe a paz no mundo. Não é, bem o sabemos.
Sabemos ainda que para muitos é uma época de sofrimento. Para outros, é considerada um desfile de hipocrisias e a descrença é tanta que o desdém, se espalha até a quem celebra/gosta.
No entanto, em espírito de tratado de paz, convido-te a ti (que provavelmente nem estás a ler isto) a pensar em todos estes parágrafos e eliminar o vocabulário festivo.
Talvez fique na mesma um projeto de tranquilidade e conforto para estes dois últimos meses do ano.
E que fiques, no mínimo, com um fragmento de criatividade para tornares o teu redor mais sereno e consciente. E que esse redor torne o teu interior mais sorridente e confortado.
Até ficava bem terminar a reflexão de hoje com “Feliz natal” mas até eu acho algo ridículo fazê-lo.
Mas deixo-te com o desejo de uma época festiva vivida com o sonho de criança.
Uma semana bem slow para ti,
Obrigada por estares desse lado!
Sara – Slow Living Portugal